ABA: análise do comportamento aplicada e sua contribuição no tratamento do TEA
mar. 22, 2024

Nos últimos anos, ouvimos falar sobre o Transtorno do Espectro do Autismo com muito mais frequência. Isso tem acontecido como consequência do crescimento, em números, de pessoas diagnosticadas com TEA — mas não é só isso.



Houve também, nos últimos anos, um avanço significativo nos estudos que buscam entender o que é o TEA e seus critérios diagnósticos, com evidências crescentes da importância da intervenção precoce e especializada.


Isso significa que muita gente resolveu estudar a fundo esse quadro, compreendendo além de suas características e manifestações, ou seja:

  • o que está por trás das características;
  • como crianças com TEA aprendem, processam as informações e respondem a essas informações;
  • e mais.


Esse tipo de pesquisa nunca se esgota e, a cada dia, nos deparamos com novas informações sobre o autismo. Entretanto, até aqui elas já foram e são muito úteis para auxiliar na construção de métodos e modelos de intervenção específicos para pessoas com TEA.


Você já deve ter ouvido falar sobre alguns desses métodos, e talvez tenha se perguntado o que cada um tem de tão especial ou, por qual razão, crianças com TEA se beneficiam mais de certo modelo de intervenção.


Pensando nisso, nesse artigo explicaremos sobre a Análise do Comportamento Aplicada e sua contribuição para pessoas com TEA. Acompanhe a leitura!

O que é ABA?

A Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior Analysis — ABA) é uma ciência que se baseia no estudo, análise e intervenção em comportamentos socialmente relevantes para os indivíduos.


Ela tem dois principais objetivos:

  • ampliação do repertório comportamental ou ensino de novas habilidades;
  • redução da frequência e/ou intensidade de comportamentos indesejáveis, ou pouco adaptativos.


Segundo a ABA, os comportamentos são desencadeados por eventos específicos e mantidos, ou não, pelas consequências geradas

a partir deles. Portanto, envolve a avaliação detalhada de antecedentes, condutas e consequências diretamente relacionados aos aprendizados da criança. Assim, ao mapear suas áreas de déficit de comportamento, é possível direcionar um plano de ensino de habilidades necessárias e adequadas à criança.


A aplicação da ABA pode ser realizada em diferentes populações e locais, como no caso de escolas e empresas. Entretanto, é mais frequente que ela esteja associada à intervenção de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo, e isso acontece em decorrência do alto número de estudos que comprovam sua eficácia com essa população.


A Análise do Comportamento Aplicada, conforme já dissemos aqui, envolve:

  • avaliação detalhada da criança e suas habilidades;
  • definição de objetivos terapêuticos;
  • descrição dos procedimentos realizados;
  • registro das respostas da criança;
  • estratégias que envolvam a generalização das habilidades adquiridas na intervenção para outros ambientes.


Esse tipo de intervenção envolve, ainda, um número alto de horas semanais, além do trabalho de uma equipe de profissionais capacitados.

Progressos para crianças com TEA

Para que uma criança com TEA aprenda e desenvolva todas as suas habilidades, é fundamental que ela inicie, o mais precocemente possível, um tratamento especializado. Nesse contexto, a intervenção a partir da Análise do Comportamento Aplicada, pode ser considerada uma das principais opções.


Quando expostas à ABA, desde que aplicada por uma equipe capacitada, a criança terá muitos progressos como:

  • ampliar a capacidade cognitiva, motora, de linguagem e de integração social;
  • desenvolver e aperfeiçoar as habilidades da criança, valorizando sua identidade;
  • se relacionar melhor na casa de familiares, escola, restaurantes ou qualquer outro lugar;
  • aprender novas habilidades e “eliminar” comportamentos negativos, como reações agressivas, crises e estereotipias.


O conjunto dessas habilidades torna a criança e, futuramente, o adulto com TEA muito mais independente, ampliando suas possibilidades.

Conclusão

Para compreender a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e conseguir aplicar seus princípios na intervenção de crianças com TEA ou outros diagnósticos, é necessário muito estudo. Ela pode até parecer simples, mas se trata de uma ciência bastante complexa.


Sendo assim, é fundamental que os profissionais da saúde que já utilizem ou que gostariam de utilizar os princípios da ABA na sua prática clínica se mantenham em constante aprimoramento, buscando por cursos e certificações que forneçam os subsídios teóricos e práticos indispensáveis para o sucesso na prática clínica.


Para isso, a TK EaD oferece diversos treinamentos focados em TEA na área da Fonoaudiologia.
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fonoaudiologa-e-criança
12 abr., 2024
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é considerado uma síndrome comportamental que afeta o desempenho social, o comportamento e a comunicação. Embora ainda não se saiba exatamente qual é a sua origem ou causa, estudos sugerem a presença de fatores genéticos e neurobiológicos que podem estar associados a essa condição. O TEA tem maior incidência no sexo masculino em uma proporção de 4,2 nascimentos para cada um do sexo feminino, sendo a prevalência total estimada em um em cada 88 nascimentos, colocando o TEA entre os transtornos do desenvolvimento mais comuns. Ao longo do tempo, a classificação e critérios diagnósticos para o TEA são modificados conforme avançamos na compreensão acerca desse tema. Na mais recente atualização, realizada em 2013, disponível no DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, sigla em inglês para Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), o TEA passou a ser descrito como espectros de características que variam em grau de manifestação, sendo considerado então um quadro que pode variar muito de indivíduo para indivíduo. Independentemente do grau de comprometimento, esse manual determina uma díade diagnóstica, ou seja, aspectos que necessariamente precisam estar alterados em quadros de TEA e que corresponde ao prejuízo nas habilidades de interação social e comunicação e à presença de comportamentos, interesses e atividades estereotipados. Podemos perceber que a comunicação e a linguagem da pessoa com TEA são aspectos que merecem atenção. Seja com maior ou menor comprometimento, prejuízos na linguagem e comunicação são parte desse quadro. Considerando a linguagem como tudo aquilo que nos torna seres capazes interagir, expressar desejos, sentimentos e pensamentos, qualquer alteração que prejudique essas habilidades terão grande impacto no desenvolvimento e qualidade de vida de qualquer pessoa. Neste texto, vamos abordar as principais características relacionadas à linguagem no TEA. Confira! A linguagem e seu desenvolvimento A linguagem é uma habilidade exclusiva da espécie humana, que permite a cada indivíduo representar e expressar suas experiências de vida, pensamentos, desejos e dúvidas, além de ser uma ferramenta indispensável no processo de aquisição, produção e transmissão do conhecimento. A linguagem vai além da fala, estando presente nos: gestos; comportamentos; expressões faciais; forma como interagimos com as outras pessoas. Essa habilidade é desenvolvida e aprimorada ao longo da vida, mas, principalmente nas etapas iniciais do desenvolvimento nas quais as crianças têm ampla capacidade de adquirir e aprender novas habilidades. Esse processo acontece naturalmente durante a interação das crianças com seus pares, mas estão condicionadas à algumas habilidades da própria criança. No caso de crianças com TEA, o desenvolvimento das habilidades de linguagem e comunicação é prejudicado e pode estar alterado de formas variáveis. Na próxima sessão, vamos entender quais características podem ser observadas nesse contexto. Acompanhe! A linguagem no TEA A linguagem em pessoas com TEA pode estar alterada de diferentes formas, variando no grau de comprometimento, e podem ser observadas em todos os aspectos da comunicação. Nesse espectro, vamos observar tanto crianças que não se comunicam por meio da fala, como aquelas que apesar de conseguir elaborar um discurso, tem dificuldade em lidar com regras sociais tornando a comunicação pouco funcional. Crianças com TEA podem apresentar dificuldade no desenvolvimento de fala e linguagem, por vezes demoram para começar a falar e, quando isso acontece, a linguagem pode ser utilizada de forma pouco funcional, apresentando ausência ou redução da fala espontânea, mesmo em situações de interação. Além disso, podem ser observadas: uso inadequados de pronomes possibilidade da ocorrência de ecolalias . uso de gestos e expressões faciais é prejudicado; alteração no ritmo da fala, o que pode torná-la monótona ou robótica; dificuldades na elaboração de frases e no emprego de estruturas gramaticais complexas.  Outras habilidades, como a de atenção, podem estar alteradas e se refletem na comunicação, pois prejudicam a interação da pessoa com TEA com os demais. Aliás, as dificuldades sociais representam uma barreira importante à comunicação. Pessoas com TEA tendem a ter dificuldade em estabelecer relações fundamentais ao diálogo com as outras pessoas, como: iniciar e manter uma conversa; trocar turnos durante a comunicação; se atém ao significado das palavras de forma rígida; adequar sua fala ao contexto e ao interesse do seu interlocutor; dificuldade de compreender conceitos abstratos, ironias e figuras de linguagem. Portanto, existe a dificuldade de simbolização, que pode, inclusive, ser observada na brincadeira da criança com TEA que tende a ser menos estruturada. Por se tratar de uma alteração comportamental, o diagnóstico nos casos de TEA é realizado com base na observação dessas e outras características descritas no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) . Portanto, não existem exames, como os de imagem, capazes de auxiliar nesse diagnóstico até o momento. Quanto antes for feito o diagnóstico, ou pelo menos, for identificado o risco para autismo, melhor! A identificação precoce possibilita a intervenção precoce e ela fará toda a diferença na evolução dessas crianças. Importância da intervenção precoce nos casos de TEA O nosso cérebro é formado por uma rede de circuitos responsável por conduzir informações e permitir a realização de qualquer tarefa ou habilidade. Essa rede formada a partir da conexão dos neurônios é responsável pelo desenvolvimento e uso da linguagem. Com o passar do tempo, o cérebro reconhece quais dessas conexões são utilizadas com maior frequência e oferece uma espécie de reforço. Por outro lado, aquelas conexões que não estão sendo usadas são desativadas, a esse mecanismo de exclusão damos o nome de poda neural. Embora o “corte” aconteça diversas vezes ao longo da vida, ocorre de forma intensa até os 3 anos, que faz com que esse período inicial na vida de qualquer criança seja fundamental no estabelecimento de conexões que possibilitarão o desenvolvimento de habilidades, como a linguagem. Nesse sentido, fica fácil compreender porque a estimulação precoce é importante nos casos de TEA! Não significa que crianças maiores não vão apresentar evolução significativa, mas iniciar o acompanhamento adequado tão logo se identifique uma suspeita ou risco para o TEA pode tornar a evolução mais rápida e eficiente. Importância da tríade família, escola e profissionais da reabilitação no sucesso da intervenção em linguagem no TEA O trabalho de intervenção voltado às pessoas com TEA envolve a participação de uma série de profissionais que favorecem o desenvolvimento de ampla variedade de habilidades: fonoaudiólogo: se dedicará à intervenção voltada ao desenvolvimento de linguagem e habilidades comunicativas; psicólogo: é o profissional responsável por trabalhar o comportamento da criança, sendo fundamental no manejo com os pais; terapeuta ocupacional: além de trabalhar aspectos sensoriais que podem estar alterados, favorecerá o desenvolvimento de habilidades de vida diária, permitindo à pessoa com TEA maior nível de independência. Além dos citados, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e assistentes sociais podem estar envolvidos nesse processo de intervenção. Contudo, vale a pensa lembrar que mesmo nos casos em que a criança realiza a intervenção de forma intensiva, durante muitas horas, o que nem sempre é uma realidade no nosso país, ela passará o maior tempo do seu dia em casa, com os pais e na escola. Por essa razão, a intervenção em casos de TEA só atingirá a máxima eficiência quando os profissionais na reabilitação da pessoa com TEA trabalharem em conjunto com professores, pais e cuidadores. Dessa forma, tudo o que for realizado no consultório pode ser usado nos demais contextos em que a criança está inserida. E, para você que deseja conhecer mais sobre esse assunto, a TK preparou um curso teórico e prático completo sobre o tema: Como Intervir nas Ecolalias e Estereotipias Verbais. Esse curso apresenta versões para pais , educadores e fonoaudiólogos justamente visando fortalecer a rede de cuidado no TEA! Referências: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo. Brasília, 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf
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