Mitos e Verdades sobre Autismo
fev. 05, 2024

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode se manifestar nas habilidades comunicativas e sociais


Muitas pessoas pensam que é uma doença, porém essa classificação é equivocada e gera estereótipos que colaboram para o preconceito contra pessoas autistas.

 

Muitas especulações e mitos se formaram devido a padrões de comportamento e visão deturpada do TEA, mas é preciso ter em mente que cada pessoa possui sua particularidade e isso não é diferente no caso de pessoas com autismo. Na realidade, esse transtorno é mais comum do que imaginado.

 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2 e 4 milhões de indivíduos brasileiros são autistas. No entanto, muitos não sabem dessa condição, tornando difícil uma métrica exata.

+Graus de autismo: desafios na intervenção fonoaudiológica

 

Listamos mitos e verdades sobre o autismo com o objetivo de esclarecer as condições do transtorno e colaborar com a redução de preconceitos. Continue a leitura:



Pessoas com autismo tendem a ser agressivas

Mito! Pessoas com autismo podem ou não exibir comportamentos agressivos, tanto autoagressivos (agredir a si mesmo) ou hetero-agessivos (agredir ao outro). Vários fatores podem contribuir para manifestação de comportamentos agressivos, desde crises de desregulação sensorial (quando os estímulos sensoriais estão sobrecarregando a pessoa com autismo), dificuldade para expressar algo que desejem (Ex: que não está querendo que alguém se aproxime, ou o toque, etc), até outros fatores ligados à mudanças de rotinas, alterações de humor devido à privação de sono, ajustes de medicação que possam ocorrer no momento. O importante é sempre entender e buscar a causa desse comportamento se manifestar para juntos – profissionais e família – encontrarem um manejo adequado a esse comportamento.


Autistas não conseguem manter contato visual

Mito. Manter o contato visual envolve dificuldades de socialização, que também é um desafio enfrentado por pessoas com TEA. No entanto, elas podem sim manter o contato visual, desde que as intervenções sejam direcionadas para estimular essa habilidade de forma natural e espontânea em contextos interativos. Elas podem ter dificuldades, mas podem desenvolver essa habilidade.

 

Este fator pode ser desenvolvido com a assistência de profissionais adequados.

+A importância das expressões faciais no TEA

 

Todas as pessoas com autismo têm o mesmo comportamento

Mito. Como já discutimos em tópicos anteriores, cada indivíduo com autismo tem suas próprias características e comportamentos. Alguns podem exibir comportamentos semelhantes, enquanto outros podem ter comportamentos diferentes e únicos em comparação com qualquer outra pessoa com TEA.

 

Toda pessoa com TEA tem inteligência acima da média

Mito. Acreditar que todas as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) têm inteligência acima da média é um equívoco. Embora isso possa ser verdade em alguns casos de autismo, também é possível desenvolver dificuldades de aprendizado, deficiências nas funções executivas e déficits intelectuais. Apenas uma avaliação multidisciplinar completa pode auxiliar no diagnóstico do TEA juntamente com outras condições associadas.

 

Podem apresentar fala desorganizada

Mito. Pessoas com TEA podem ter dificuldades de linguagem e fala, mas os critérios diagnósticos importantes são dificuldades na comunicação e interação social. Apenas um fonoaudiólogo qualificado e especializado pode diagnosticar as alterações de fala e linguagem em uma pessoa com TEA.

 

Ecolalias não são falas disfuncionais nem desorganizadas, o que é um mito.

 

Essas características requerem a assistência de um fonoaudiólogo.

+10 sinais de alterações motoras da fala e quando procurar um fonoaudiólogo

 

A intervenção é multidisciplinar

Verdade! Pessoas com TEA necessitam de acompanhamento multidisciplinar de profissionais de várias áreas, como: médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, pedagogos, psicopedagogos, auxiliares terapêuticos devidamente capacitados, entre outros. Tudo depende da necessidade do indivíduo.

+Como usar o reforço positivo em crianças com autismo?

 

Fonoaudiologia e TEA

O Fonoaudiólogo deve fazer parte da equipe de profissionais que acompanham a pessoa com TEA, desde a avaliação, diagnóstico e até mesmo à intervenção. Sua atuação não abrange somente a linguagem receptiva e expressiva, como também todos os comportamentos comunicativos (verbais, gestuais, vocais e não-verbais), comunicação suplementar e alternativa, leitura, escrita e aprendizado, assim como o trabalho direcionado – quando necessário -às funções da respiração, sucção, mastigação, deglutição, produção motora da fala e seletividade alimentar, além de outros distúrbios alimentares pediátricos que possam estar associados ao TEA.

 

O desenvolvimento da fala é um ponto que pode interferir na comunicação, então, ela deve ser trabalhada para que não afete outras questões. Para isso, o Fonoaudiólogo precisa se aprofundar nos estudos, passando não somente um diagnóstico, mas sim uma intervenção abrangente que promova a evolução das habilidades das pessoas com TEA.

fonoaudiologa-e-criança
12 abr., 2024
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é considerado uma síndrome comportamental que afeta o desempenho social, o comportamento e a comunicação. Embora ainda não se saiba exatamente qual é a sua origem ou causa, estudos sugerem a presença de fatores genéticos e neurobiológicos que podem estar associados a essa condição. O TEA tem maior incidência no sexo masculino em uma proporção de 4,2 nascimentos para cada um do sexo feminino, sendo a prevalência total estimada em um em cada 88 nascimentos, colocando o TEA entre os transtornos do desenvolvimento mais comuns. Ao longo do tempo, a classificação e critérios diagnósticos para o TEA são modificados conforme avançamos na compreensão acerca desse tema. Na mais recente atualização, realizada em 2013, disponível no DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, sigla em inglês para Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), o TEA passou a ser descrito como espectros de características que variam em grau de manifestação, sendo considerado então um quadro que pode variar muito de indivíduo para indivíduo. Independentemente do grau de comprometimento, esse manual determina uma díade diagnóstica, ou seja, aspectos que necessariamente precisam estar alterados em quadros de TEA e que corresponde ao prejuízo nas habilidades de interação social e comunicação e à presença de comportamentos, interesses e atividades estereotipados. Podemos perceber que a comunicação e a linguagem da pessoa com TEA são aspectos que merecem atenção. Seja com maior ou menor comprometimento, prejuízos na linguagem e comunicação são parte desse quadro. Considerando a linguagem como tudo aquilo que nos torna seres capazes interagir, expressar desejos, sentimentos e pensamentos, qualquer alteração que prejudique essas habilidades terão grande impacto no desenvolvimento e qualidade de vida de qualquer pessoa. Neste texto, vamos abordar as principais características relacionadas à linguagem no TEA. Confira! A linguagem e seu desenvolvimento A linguagem é uma habilidade exclusiva da espécie humana, que permite a cada indivíduo representar e expressar suas experiências de vida, pensamentos, desejos e dúvidas, além de ser uma ferramenta indispensável no processo de aquisição, produção e transmissão do conhecimento. A linguagem vai além da fala, estando presente nos: gestos; comportamentos; expressões faciais; forma como interagimos com as outras pessoas. Essa habilidade é desenvolvida e aprimorada ao longo da vida, mas, principalmente nas etapas iniciais do desenvolvimento nas quais as crianças têm ampla capacidade de adquirir e aprender novas habilidades. Esse processo acontece naturalmente durante a interação das crianças com seus pares, mas estão condicionadas à algumas habilidades da própria criança. No caso de crianças com TEA, o desenvolvimento das habilidades de linguagem e comunicação é prejudicado e pode estar alterado de formas variáveis. Na próxima sessão, vamos entender quais características podem ser observadas nesse contexto. Acompanhe! A linguagem no TEA A linguagem em pessoas com TEA pode estar alterada de diferentes formas, variando no grau de comprometimento, e podem ser observadas em todos os aspectos da comunicação. Nesse espectro, vamos observar tanto crianças que não se comunicam por meio da fala, como aquelas que apesar de conseguir elaborar um discurso, tem dificuldade em lidar com regras sociais tornando a comunicação pouco funcional. Crianças com TEA podem apresentar dificuldade no desenvolvimento de fala e linguagem, por vezes demoram para começar a falar e, quando isso acontece, a linguagem pode ser utilizada de forma pouco funcional, apresentando ausência ou redução da fala espontânea, mesmo em situações de interação. Além disso, podem ser observadas: uso inadequados de pronomes possibilidade da ocorrência de ecolalias . uso de gestos e expressões faciais é prejudicado; alteração no ritmo da fala, o que pode torná-la monótona ou robótica; dificuldades na elaboração de frases e no emprego de estruturas gramaticais complexas.  Outras habilidades, como a de atenção, podem estar alteradas e se refletem na comunicação, pois prejudicam a interação da pessoa com TEA com os demais. Aliás, as dificuldades sociais representam uma barreira importante à comunicação. Pessoas com TEA tendem a ter dificuldade em estabelecer relações fundamentais ao diálogo com as outras pessoas, como: iniciar e manter uma conversa; trocar turnos durante a comunicação; se atém ao significado das palavras de forma rígida; adequar sua fala ao contexto e ao interesse do seu interlocutor; dificuldade de compreender conceitos abstratos, ironias e figuras de linguagem. Portanto, existe a dificuldade de simbolização, que pode, inclusive, ser observada na brincadeira da criança com TEA que tende a ser menos estruturada. Por se tratar de uma alteração comportamental, o diagnóstico nos casos de TEA é realizado com base na observação dessas e outras características descritas no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) . Portanto, não existem exames, como os de imagem, capazes de auxiliar nesse diagnóstico até o momento. Quanto antes for feito o diagnóstico, ou pelo menos, for identificado o risco para autismo, melhor! A identificação precoce possibilita a intervenção precoce e ela fará toda a diferença na evolução dessas crianças. Importância da intervenção precoce nos casos de TEA O nosso cérebro é formado por uma rede de circuitos responsável por conduzir informações e permitir a realização de qualquer tarefa ou habilidade. Essa rede formada a partir da conexão dos neurônios é responsável pelo desenvolvimento e uso da linguagem. Com o passar do tempo, o cérebro reconhece quais dessas conexões são utilizadas com maior frequência e oferece uma espécie de reforço. Por outro lado, aquelas conexões que não estão sendo usadas são desativadas, a esse mecanismo de exclusão damos o nome de poda neural. Embora o “corte” aconteça diversas vezes ao longo da vida, ocorre de forma intensa até os 3 anos, que faz com que esse período inicial na vida de qualquer criança seja fundamental no estabelecimento de conexões que possibilitarão o desenvolvimento de habilidades, como a linguagem. Nesse sentido, fica fácil compreender porque a estimulação precoce é importante nos casos de TEA! Não significa que crianças maiores não vão apresentar evolução significativa, mas iniciar o acompanhamento adequado tão logo se identifique uma suspeita ou risco para o TEA pode tornar a evolução mais rápida e eficiente. Importância da tríade família, escola e profissionais da reabilitação no sucesso da intervenção em linguagem no TEA O trabalho de intervenção voltado às pessoas com TEA envolve a participação de uma série de profissionais que favorecem o desenvolvimento de ampla variedade de habilidades: fonoaudiólogo: se dedicará à intervenção voltada ao desenvolvimento de linguagem e habilidades comunicativas; psicólogo: é o profissional responsável por trabalhar o comportamento da criança, sendo fundamental no manejo com os pais; terapeuta ocupacional: além de trabalhar aspectos sensoriais que podem estar alterados, favorecerá o desenvolvimento de habilidades de vida diária, permitindo à pessoa com TEA maior nível de independência. Além dos citados, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e assistentes sociais podem estar envolvidos nesse processo de intervenção. Contudo, vale a pensa lembrar que mesmo nos casos em que a criança realiza a intervenção de forma intensiva, durante muitas horas, o que nem sempre é uma realidade no nosso país, ela passará o maior tempo do seu dia em casa, com os pais e na escola. Por essa razão, a intervenção em casos de TEA só atingirá a máxima eficiência quando os profissionais na reabilitação da pessoa com TEA trabalharem em conjunto com professores, pais e cuidadores. Dessa forma, tudo o que for realizado no consultório pode ser usado nos demais contextos em que a criança está inserida. E, para você que deseja conhecer mais sobre esse assunto, a TK preparou um curso teórico e prático completo sobre o tema: Como Intervir nas Ecolalias e Estereotipias Verbais. Esse curso apresenta versões para pais , educadores e fonoaudiólogos justamente visando fortalecer a rede de cuidado no TEA! Referências: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo. Brasília, 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf
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